terça-feira, 6 de maio de 2014

Depoimento de um único alemão

Por Ana Carolina Bispo

Queria saber o que os alemães de hoje aprenderam ou sabem sobre Hitler. Como é tratado esse assunto na Alemanha atual. Por intermédio de uma amiga brasileira que atualmente mora na Alemanha, busquei depoimentos sobre esse assunto. Não obtive muito êxito, pois segundo ela  os alemães não gostam muito de falar sobre Hitler e sobre a época da segunda guerra.
Mas consegui o depoimento de um alemão legítimo e achei importante compartilhar com o blog:

“Existe, na língua alemã uma palavra chamada ‘Tätervolk’, que consiste na junção das palavras ‘Täter’ e ‘Volk’.  Täter é uma pessoa que cometeu um crime, um criminoso. Volk são as pessoas de um país, o povo. Os alemães referem a si mesmos em relação à segunda guerra mundial, como ‘povo de criminosos’. Ou seja, todo o povo é o culpado pelos crimes cometidos durante o regime nazista. O próprio Hitler era austríaco, mas nós, os alemães somos os culpados.
Claro, sempre há pessoas como nacionalistas e neonazistas que veem as coisas de forma diferente, mas o alemão ‘normal’ se envergonhou por um longo tempo após a segunda guerra pelo que aconteceu e pelo simples fato de ser alemão.
Nos 60 e 70, a segunda guerra mundial e o regime nazista foram ignorados pelos professores durante as aulas de História. A história que eles ensinavam acabava em 1918, fim da primeira guerra mundial. Os professores dos anos 60 e 70 vivenciaram a segunda guerra,  e não conseguiam falar sobre isso.
Só quando uma nova geração de crianças se tornou adultos e professores, este assunto foi discutido nas escolas. Ou seja, só 30/40 anos depois.
A segunda Geração após a guerra, os alemães que agora têm cerca de 30 anos, se envergonharam a vida toda apenas por serem alemães. Nas aulas de História, a segunda guerra mundial, perseguição aos judeus e o regime nazista passou a ocupar grande parte do conteúdo das aulas de História do 9º até o 13º ano (equivalente ao ensino médio). Quase ninguém tinha uma bandeira da Alemanha. Ninguém cantava o hino nacional alemão em jogos de futebol internacionais, qualquer um que falasse coisas como ‘Eu tenho orgulho de ser alemão’ era rapidamente visto como Neonazista ou de extrema direita.
Tudo mudou só com a 3ª geração, no ano de 2006. Nesse ano, a Copa do Mundo foi na Alemanha e pela primeira vez foi aceito hastear e balançar a bandeira da Alemanha, cantar o hino nacional e ter orgulho de ser alemão. Pela primeira vez, foram vendidas muitas camisas da seleção alemã.
Só após 60 anos, os alemães puderam ter uma mentalidade neutra ou positiva sobre a própria nacionalidade.” Disse o estudante alemão Benjamin Grotepass, de 28 anos.

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