terça-feira, 20 de maio de 2014

A ciência e o nazismo

por Renan Marques




"O povo alemão é um só corpo, mas a sua integridade está ameaçada. Para manter a saúde do povo, é preciso curar o corpo infestado de parasitas" - Adolf Hitler em ‘Minha Luta’.

Durante a Segunda Guerra Mundial, uma série de experiências científicas foram realizadas em cobaias humanas nos campos de concentração em nome do racismo e das crenças supremacistas arianas. Obviamente, não foram feitas por boa vontade, e seus métodos ecoam até hoje como uma das mais cruéis atrocidades dos ideiais nazistas, já que resultaram em mortes, incapacitações permanentes e desfigurações. O uso de radiação pélvica para tentar esterilizar os judeus de forma rápida, as complicações devido as obstruções intestinais e das fístulas, a matança de prisioneiros com injeções de fenol para o coração e os experimentos de despressurizarão são alguns exemplos desse atos brutais. Essa ciência desumana tinha como objetivo ajudar o exército alemão, e até mesmo soldados eram submetidos por situações como imersão em água gelada, mudanças bruscas de pressão, queimaduras e infecções. Parte disso se deve ao despejo de recursos nazistas na medicina que fez com que metade dos universitários alemães estudassem nessa área em 1939, segundo o historiador britânico Richard J. Evans.



A capital alemã, Berlim foi a primeira cidade a se engajar em campanhas anti-tabagistas, já que os nazistas foram pioneiros nos estudos que comprovaram a relação entre o hábito de fumar e o câncer de pulmões, é o que diz o historiador Robert Proctor, da Universidade de Stanford, que chamou isso de paranóia homeopática: ‘Os nazistas tinham pavor de agentes minúsculos que poderiam corromper o corpo alemão. Eram obcecados por ar limpo, comida natural e um estilo de vida saudável.’ Na cidade de Munique essa mentalidade pode ser comprovada, já que ela é considerada uma das mais limpas e ecologicamente conscientes do mundo.




Sobre pesquisas relacionadas ao frio, o médico John Hayward, da Universidade de Victoria, no Canadá, afirma sem medo: “Eu não queria ter de usar os dados nazistas, mas não existem outras opções para a minha pesquisa. Nem nunca existirão num mundo ético". Fica bastante clara a importância do que foi feito pelos alemães nessa área, mesmo sendo da forma que foi conduzida.

Mais um outro caso polêmico envolve o fosfogênio, um gás tóxico e corrosivo muito utilizado hoje na fabricação de plásticos e pesticidas. Como os únicos estudos conhecidos, detalhados e minuciosos sobre os efeitos do fosfogênio em seres humanos haviam sido produzidos em experiências nazistas, a Agência de Proteção Ambiental decidiu por utilizar os dados nazistas ao invés de por em risco vidas de americanos.
O país regido pelo nazismo foi também o inventor da aspirina, da novocaína (anestesia usada por dentistas) e desenvolveu fertilizantes, corantes e microscópios muito mais baratos e eficientes. Foi um dos setores que mais se envolveram com o nazismo - a ponto de o maior conglomerado farmacêutico do mundo na época instalar uma fábrica dentro do campo de concentração de Auschwitz. Posteriormente esse mesmo conglomerado farmacêutico formariam empresas ativas até hoje como, a Bayer e a Boehringer.

Os biólogos alemães desenvolveram pesquisas pioneiras no campo da genética, e o financiamento para pesquisas durante a expansão do nazismo aumentou em dez vezes. Já a mecânica quântica e a relatividade talvez tenha sido as ideias mais revolucionárias da física alemã. O destaque fica para os seis físicos que venceram os prêmios Nobel nessa época.


Fontes:
Museu Memorial do Holocausto dos EUA
Revista Super Interessante, Doutores da Agonia.
CORNWELL, John. Os Cientistas de Hitler. Editora Imago, 2003.
LIFTON, Robert Jay. The Nazi Doctors. Basic Books, EUA, 2000.

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