terça-feira, 3 de junho de 2014

Leni Riefenstahl

por Juan Silvera


Leni Riefenstahl nasceu em Berlin, em 22 de agosto de 1902. Faleceu com 101 anos, em 2003. Quebrou em seus 101 anos de vida uma infinidade de paradigmas e aportou ao cinema uma grande quantidade  de experiências inovadoras que se faz necessário destacar ,por seu brilho apesar de sua vinculação e colaboração durante una década com a ideologia e a cúpula do poder nazista.
Desde  muito jovem iniciou sua carreira como bailarina. Uma lesão  do menisco a afastou  temporariamente dos palcos. Em 1924, entrou em contato com o Dr. Arnold Fanck, apôs assistir a um filme dele sobre os Alpes dolomitas. 
Colaborou com Arnold Fanck durante vários anos e aprendeu a manusear  a câmera, além de protagonizar vários filmes, entre eles O Monte Sagrado (título original: Der heilige Berg).
O filme de Eisenstein, O acorazado Potemkin (Título original: Bronenosez Potyomkin), foi decisivo para sua dedicação ao cinema. 
Aos poucos foi se arriscando em cenas de difícil execução, obtendo uma reputação alta como atriz e investiu dinheiro na produção de filmes.
 Ela não quis ficar restrita a atuar e em 1932 dirigiu seu primeiro filme - além de ser a protagonista do mesmo -,   A luz azul,  (título original:Das blaue Licht), premiado na Mostra de Veneza, e que a lançou internacionalmente. Pouco tempo antes de chegar ao poder em 30 de  janeiro de 1933, Hitler quis conhecê-la e foram apresentados. Hitler causou grande impacto na atriz e agora diretora, aceitou realizar a direção de dois documentários para o congresso do partido: A Vitoria da Fé (Der Sieg des Glaubens) em 1933 e o Triunfo da Vontade (Triumph des Willens) em 1936. 
Obteve com estes documentários o Prêmio Nacional de Cinema, a medalha de ouro na Bienal de Veneza e a medalha de ouro na exposição Universal de Paris em 1937.
Em 1936, com Olimpíada (Título original: Der film von den XI Olympischen Spielen), uma epopeia sobre os jogos olímpicos  de Berlin, obteve não somente grande reconhecimento do povo e do governo nazista, como também foi premiada  com o Leão de Ouro no festival de Veneza. A estreia do filme foi no dia do aniversário de Hitler, em duas seções  privadas: uma para a Festa dos Povos (Fest der Völker)  e a outra para Festa da Beleza (Fest der Schönheit).
Nessa época, motivada pelas críticas recebidas por parte de alguns generais do sistema que não concordavam com a confiança nela depositada por Hitler, filmou o curta metragem O dia da liberdade (Tag der Freiheit), um documentário  sobre a Wehrmacht hitleriana, em 1935. No mesmo período viajou pela Espanha rodando as externas do filme Terra Baixa (Tiefland), que mais tarde teve que suspender por falta de financiamento.


Leni Riefenstahl sempre contou com vastos recursos técnicos e materiais, mesmo na época em que os outros cineastas alemães viam sua produção ser interrompida por problemas financeiros. 
Para rodar o documentário O Triunfo da Liberdade por exemplo, teve à sua disposição rolos de película para rodar até 60 horas, 16 operadores, 30 câmeras, 4 equipes de áudio, um dirigível para tomadas aéreas, mais de 100 refletores potentes e contou com 350.000 habitantes da cidade de Nüremberg como figurantes.
Ela retomou as filmagens de Terra Baixa (Tiefland),  na Alemanha, onde mandou construir um set nos moldes de uma aldeia espanhola. Mais tarde foi acusada de ter utilizado como figurantes, um grupo de ciganos retirados de um campo de concentração e de obrigá-los a trabalhar em regime de escravidão.
Após as filmagens, estes teriam sido assassinados ao voltar ao campo de concentração.
Devido aos intensos bombardeios em Berlim se trasladou para Kitzbühel na Áustria, onde depositou todo o material de seus filmes, incluindo Terra Baixa, em fase final montagem.
Com o término da guerra foi detida pelo exército norte-americano, teve sua casa e seus pertences confiscados, entre eles as cópias dos filmes. Sempre negou conhecer o extermínio praticado pelo nazismo e se defendeu das acusações alegando ingenuidade e não má vontade, mesmo nunca tendo lamentado o fato; disse que se soubesse das atrocidades jamais teria apoiado Hitler, sempre negou o Holocausto. 
Após ser liberada pelo exército norte-americano, foi presa no Tirol pelos franceses, teve seus bens novamente confiscados. Já em liberdade viveu alguns meses na miséria tendo sido internada num manicômio durante três meses, onde recebeu eletrochoques numa tentativa de “desnazificá-la”.
Submetida a vários juízos pelas justiças francesa e norte- americana foi declarada inocente de ter pertencido ao partido nazista, tendo sido qualificada como somente  simpatizante do regime nazista e ter tido uma relação estritamente profissional com Hitler.
Vinte anos após ter iniciado as filmagens terminou a montagem do filme Terra Baixa e finalmente estreou.
Viajou pela África fotografando os corpos atléticos dos Nuba, cujas fotografias e  filmes rodaram o mundo; para isto ela se integrou as tribos para entender seus costumes e aprendeu a língua.  Este culto ao corpo, demonstrado pela obsessão de fotografar os atléticos Nubas, foi utilizado pelos seus críticos para indicar suas evocações das ideias nazistas.


Na última etapa de sua vida profissional, descartou o ser humano de suas fotografias e nos meados dos anos setenta começou  a fotografar recifes de coral, um tema que inclusive lhe permitiu rodar seu último filme, absolutamente esvaziado de conteúdo, Impressões debaixo d’Água (título original: Impresionen unter Wasser), que realizou  com 97 anos e apresentou em 2000 com 100 anos de idade. Se iniciou no mergulho aos 72 anos e com mais de 90 anos continuava  saltando de paraquedas.  Faleceu  aos 101 anos, em 2003.
Seus aportes para o cinema mundial são de indiscutível vanguarda: em 1935, nas filmagens das olimpíadas de Berlin utilizou -o que hoje e denominado “travelling”- carrinhos para deslizar as câmeras sobre rodas para acompanhar a corrida dos atletas; cavou fossos para obter ângulos de câmera (pongée) com uma perspectiva aérea e até uma câmera  submersa para captar o final dos saltos ornamentais.
No seu livro de memórias ela inicia com a seguinte frase “sempre andei à procura do insólito, maravilhoso e misterioso da vida”

Fonte:

Nenhum comentário:

Postar um comentário