segunda-feira, 16 de junho de 2014

Hitler e a Pintura - Parte II

por Raphael Favila

O que teria sido de Hitler se a Academia de Viena o tivesse aceitado como aluno? O que teria sido o século XX se Hitler tivesse sido pintor e não político? A Segunda Guerra Mundial teria acontecido?

O livro "O Arquivo de Hitler" mostra facetas curiosas do ditador nazista, uma delas a fase artística na juventude de Adolf. A obra reúne 265 verbetes, escritos pelo ex-combatente britânico Patrick Delaforce, que esteve na Guarda Oficial de Churchill durante a Segunda Guerra Mundial e após deixar o exército tornou-se escritor especialista em assuntos históricos e de guerra. Em uma das passagens do livro, o escritor lembra-se dos anos em que Hitler formou parceria nos negócios com o austríaco Reinhold Hanisch.
Delaforce conta que Reinhold Hanisch era um vagabundo que se tornou o único amigo de Hitler na enfermaria de caridade em Meidling, um subúrbio de Viena . Hanisch descreveu o jovem Adolf com uma juba espessa de barba sobre o queixo e que se vestia com uma sobrecasaca e um chapéu preto e gorduroso, a partir do qual seu cabelo pendia sobre a gola do casaco. Dormia em abrigos noturnos , vivendo de pão e sopa, onde conheceu o futuro Führer. Debatiam política, muitas vezes entrando em discussões acaloradas . Hanisch convenceu Hitler a se mudar para um albergue para homens, onde permaneceram por um período de sete meses, entre 1909 e 1910; dividam o teto com trabalhadores de colarinho azul e branco e alguns artesãos, mas também com os destroços da sociedade. Apostadores, agiotas, mendigos, empresários falidos e oficiais afastados do Exército . Hanisch registrou-se com o falso nome de Fritz Walter . Ele convenceu o jovem pintor apático a formar parceria em uma base de divisão do lucro em cinquenta por cento para cada um. Hitler pintava desenhos e aquarelas, à taxa de um por dia, os quais
Hanisch vendia nas ruas e bares de Viena. Os altos e baixos nas vendas impossibilitava os dois de comprarem boas roupas, mas estes não passavam mais frio nem fome.
Tinham amizade com muitos judeus, entre eles um negociante de arte húngaro, Josef Neumann, que não só comprou pinturas de Hitler, mas também o apresentou a três outros concessionários.
Hitler também copiava cartões postais e litografias de cenas vienenses. Produziu um cartaz anunciando um tônico capilar, outro para uma cama de penas e outro para
um pó antitranspirante,  vendido sob o nome de marca "Teddy” . Outro cartaz foi para um sabonete. O pôster mostrava uma montanha de barras de sabão em frente a majestosa Catedral St. Sthephan .

Hitler romperia com Hanisch tempos mais tarde, acusando-o de vender uma de suas pinturas (um retrato do Parlamento de Viena) e não dividir o lucro. Hanisch negou essa acusação. Em 04 de agosto de 1910, o austríaco foi denunciado por falsidade ideológica por outro residente do dormitório, Siegfried Löffner, que atuava agora como o novo vendedor das obras de Hitler. A polícia de Viena descobriu que Hanisch estava registrado sob falso nome, o que o levou a sete dias de prisão. A cadeia tornou-se recorrente para o ex- companheiro de Hitler. Hanisch nutria uma certa obsessão por Adolf. Provavelmente foi dele a denúncia anônima à polícia local de que Hitler usava falsamente o título de pintor acadêmico. Ainda, produziu aquarelas que vendeu como supostas obras de Hitler. Para encobrir a fraude, tinha ajuda do amigo Karl Leidenroth para autenticar as falsificações. Como foi um dos poucos a conviver em Viena na juventude com o então agora chanceler Adolf Hitler, o austríaco se tornou peça importante de relatos para a primeira biografia do futuro Führer, onde foi bem remunerado pelos depoimentos ao escritor antinazista. Aproveitou a fase de testemunha, sempre recorrido para entrevistas a jornais e revistas nacionais e internacionais.
Hanisch contestava a afirmação de Hitler que dizia, em Mein Kampf, ganhar a vida em Viena por um tempo como um trabalhador:. "Eu nunca o vi fazer o trabalho duro, mas soube que ele trabalhou como operário de construção. Empreiteiros geralmente empregam somente pessoas fortes". No livro, A Mente de Adolf Hitler , Hanisch relata: "Ele nunca foi um trabalhador ardente, foi incapaz de se levantar de manhã, tinha dificuldade em começar, e parecia estar sofrendo de uma paralisia da vontade."

Após romper com Hanisch, Hitler logo faz amizade com Josef Greiner. Compartilhavam interesses em pintura, música e ocultismo. As técnicas de pintura de Hitler haviam melhorado, sem nenhum treinamento formal de arte. Ele tinha uma habilidade natural e era fluente em estudos a lápis e carvão, excelente colorista  com óleos em paisagem. Era a sua rede de negociantes de arte, composta por judeus, que comprava a maior parte de seu trabalho. Recebeu parte da herança do seu pai, aos 24 anos,  e mudou-se de Viena para Munique. Ficou com a família Popp e continuou a pintar, mas as vendas foram bem menos sucedidas sem os marchands judeus. Rapidamente une-se ao exército da Baviera para servir durante a Primeira Guerra Mundial.

Hitler se tornou o desenhista do jornal do exército. Depois de pintar flores e de fazer “cópias arquitetônicas quase perfeitas”, o jovem artista passa a criar pinturas “mais abstratas e toscas, menos detalhadas do que as anteriores — usando como tema principal o campo de batalha, que eram cidades devastadas”.

Ferido, com uma lesão numa perna, Hitler ficou acamado num hospital. “Quando eu estava confinado à cama, me ocorreu a ideia de que deveria libertar a Alemanha”, contou. Ao receber alta, voltou para Munique e se uniu ao Partido Operário Alemão, que depois se tornou o Partido Nacional Socia¬lis-ta dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista. Começava assim o lado político de Adolf que iria transformá-lo em um dos personagens mais marcantes da História.

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