por Úrsula Castro e Luiza Portela
Dizia-se corajoso, perspicaz, dando uma impressão de ser imortal, um semideus
Adolf Hitler tinha estatura mediana, algo incomum em relação aos alemães, que eram considerados de estatura alta – pelo menos em sua grande maioria, o que não o impedia de ser uma celebridade perante os olhares daqueles que o cercavam, seja nos momentos públicos, seja nos momentos privados. Tinha a pele clara e olhos azuis. Seu hálito desagradável (provavelmente decorrente de seus problemas estomacais crônicos) não afastava de si aqueles que o admiravam. Tentava compensar o fedor que exalava de sua boca por meio de constante higiene dental.
Ao passar pelas ruas, a multidão se espremia para vê-lo. Tocá-lo, por exemplo, seria um momento inesquecível para essa legião de fãs que o seguiam na Alemanha dos anos 30 e início dos anos 40. Não era por menos que ele se vestia impecavelmente (gostava de paletós largos, para gesticular muito), pois queria sempre se apresentar bem perante o grande público e aqueles que de si se aproximavam cotidianamente.
O Führer desenvolveu um tipo de saudação (não nos referimos àquela de erguer a mão direita) na qual ele apertava, com bastante força, a mão ao cumprimentar os homens (sempre olhando bem dentro dos olhos), acrescentando, inclusive, uma espécie de “balanço” junto à mão de quem era cumprimentado, decerto com a intenção de mostrar segurança, autoridade. Quanto às mulheres, no entanto, limitava-se à gentileza, ao cavalheirismo, o que o fez ser admirado por muitas alemãs de seu tempo.
Sabia agradar e gostava de falar muito. Fazia questão de ser o centro das atenções. Contrariá-lo seria a mesma coisa que não lhe obedecer: ficava rancoroso e não hesitava na hora de dar o troco. Arrogava para si uma inteligência incomum (e de fato era inteligente), achando-se a última moeda do cofre. Chegou a declarar:“Não quero ter filhos. Já observei que descendentes de gênios geralmente sofrem demais”, uma clara demonstração de seu convencimento em matéria de supremacia própria.
Gostava de contar os feitos de quando ainda era jovem, os quais sempre o projetavam para um heroísmo estilo norte-americano dos filmes conhecidos atualmente. Narcisista por natureza. Tinha uma intuição aguçada: dos sete atentados que sofreu, pressentiu que algo lhe estava para acontecer.
Dizia-se corajoso, perspicaz, dando uma impressão de ser imortal, um semideus. De fato, embora não sendo ateu e muito menos adepto de uma religião (chegou a consultar videntes, mas zombava de suas previsões), cria numa providência sobrenatural, tanto que, mesmo quando já havia claros sinais de sua derrota militar, chegou a imaginar que essa mesma providência proporcionaria uma saída milagrosa, revertendo o destino que o selou definitivamente.
Não gostava de se apresentar vulnerável, daí o porquê de ter evitado se mostrar publicamente usando óculos. Chegou, inclusive - tentando compensar eventuais problemas visuais -, a ordenar fossem instaladas na Chancelaria máquinas de escrever com letras maiores do que as normais.
Tinha mania de limpeza. A razão se deve, muito provavelmente, pelo fato de achar que qualquer doença o conduzia à sensação de estar prestes à morte (tinha muito medo de morrer), o que explica a importância que os médicos exerceram em sua vida. Estes, por sinal, desempenharam um papel importante no tratamento de seus problemas de estômago e intestino, os quais incomodavam constantemente o ditador alemão. Consta que, no final da vida, tomava 28 medicamentos, muitos dos quais diariamente.
A partir de julho de 1944 (quando sofreu um atentado que por muito pouco não o matou), aumentou consideravelmente um tremor na mão direita, cujo mal o perseguiu até o dia em que o mesmo cometeu suicídio, em 30 de abril de 1945.
Embora Hitler fosse extremamente cuidadoso em matéria de saúde, ele se negava a fazer exames físicos completos, o que o impedia de se despir na frente de quem quer que fosse. A razão estaria na anormalidade de seus genitais: um testículo não descido. Ele também ainda sofria de outra anomalia: a uretra se abria na parte de baixo do pênis (um problema que atinge também as mulheres). Assim, o ditador que propunha a pureza e a superioridade racial, pregando o desaparecimento de quem apresentasse alguma anomalia genética, não poderia revelar os seus próprios problemas genéticos.
Adolf Hitler tinha uma dieta alimentar controlada. Adorava frutas, verduras e legumes. Não era fã de carne, principalmente depois que presenciou sua sobrinha morta (que cometeu suicídio, muito provavelmente por causa do tio ciumento –Hitler –, com quem manteve um caso amoroso).
Não bebia nem fumava, embora tivesse sido flagrado bebendo cerveja, um típico costume dos alemães. Não abria mão de bolos, principalmente se fossem cremosos e açucarados (ainda hoje é difícil saber se era Hitler que gostava mais de bolos ou se D. João VI de frangos assados). Sendo necessário, ele (o ditador alemão) abria mão dos rigores alimentares só para aumentar seu prestígio com o povo. Quando começou a criar barriga, sua amante Eva Braun (na cama, ele era masoquista e gostava de ser chamado de nenê) o convenceu a fazer caminhadas, alegando que não cabia bem a um chefe de um poderoso império se apresentar em público gordo e com uma barriga aparente.
Tinha hábitos noturnos, tanto que preferia produzir intelectualmente durante as madrugadas. Era hipersensível à luz solar, razão por que não gostava de andar sob o sol forte. Geralmente ia dormir somente depois das 4 da madrugada, e se levantava depois das 11 da manhã.
Era extremamente metódico e não se apartava de sua velha rotina. Só não foi superado pelo filósofo Kant, conhecido por sua rotina quase inabalável. Hitler tomava café da manhã ao meio-dia, e em seguida despachava com seus subordinados mais próximos. Durante o almoço (geralmente acompanhado de dez pessoas), o Führer gostava de falar muito, mostrando seus dotes intelectuais: dissertava sobre os mais variados assuntos: história, arte, política e ciências.
O maior genocida da história era dado à leitura. Gabava-se de ler um livro por dia (o que é provavelmente um exagero – do tempo recorde e não do gosto pelos livros). Sua biblioteca continha mais de 16 mil volumes, muitos dos quais obras raras e consideradas eruditas, dentre as quais as coleções completas de Goethe, Schiller, Kant e Shakespeare, cujos livros se achavam luxuosamente encadernados. Hitler tinha uma paixão especial por dicionários, tanto que entre seus livros foi encontrada uma coleção de 12 volumes. Tinha uma memória invejável, fato este que o levou a reter grande número de informações extraídas das seguidas leituras que fazia.
Não dispensava o famoso cochilo depois do almoço. Gostava de se deitar no sofá, sempre com as mãos sobre os olhos. Quem o despertava era Eva Braun (sua amante), que tinha o hábito de iniciar uma conversa ao pé do ouvido do Führer, em tom mais elevado, numa tentativa de acordá-lo de seu sono vespertino.
O jantar começava costumeiramente por volta das 20 horas. Em seguida todos iam assistir a uma sessão de cinema, cujos filmes preferidos eram King Kong, Branca de Neve e os Sete Anões e Metropolis. Depois, todos participavam de conversas informais, sempre centralizadas na figura do ditador, que tinha o costume de se prolongar em sua fala, principalmente quando estava preocupado com algo. Era comum a fadiga dos ouvintes, que disfarçavam o inconveniente.
Adolf Hitler tinha também o seu lado cômico: gostava de fazer imitações para seus convidados. Os alvos escolhidos eram os líderes estrangeiros, atentamente observados pelo Führer durante os encontros internacionais. Ele gostava de imitar seus trejeitos e maneira de falar. É de se presumir que Stalin, Mussolini, Charles de Gaulle, Roosevelt e Churchill foram imitados pelo ditador alemão, doutor em dissimulação. Com o primeiro, foi criada inclusive uma caricatura onde os dois, abraçados, firmavam o noivado (Hitler o noivo e Stalin a noiva), uma referência ao pacto de não agressão acordados pelos dois líderes, pouco antes do início da guerra.
Embora dado à arte de imitar, Hitler não gostava de sorrir. Sua secretária pessoal e seu guarda-costas relatam que o viram sorrir com maior intensidade somente em duas ocasiões: uma quando a França se rendeu, em 1940 (ele dançou na frente dos generais, que ficaram bastante surpresos), e a outra quando aconteceu a anexação da Tchecoslováquia. Neste último caso, ao sair da sala de reuniões, o ditador pediu às duas secretárias que o beijassem, uma em cada bochecha:“Minhas queridas, tenho uma boa notícia. Hacha [presidente do país] acaba de assinar. É o maior triunfo da minha vida. Vou entrar para a história como o maior dos alemães”. E deu um sorriso radiante!
Muitas vezes gentil, mas perdia a prudência sempre que era contrariado ou estivesse passando por problemas pessoais, principalmente quando a Alemanha perdia a guerra pouco a pouco. Quando isto acontecia, dava gritos em seus subordinados, cujo som ecoava nos corredores da Chancelaria.
Certa vez, lia, em pé, sob uma árvore, a alguns metros de seu segurança particular, quando uma mosca passou a incomodá-lo copiosamente. Tentou afastá-la, mas sempre sem sucesso. O segurança se conteve para não rir do episódio. Perceptivo, Hitler notou a intenção do soldado, e disparou: “Se não é capaz de manter um bicho desses longe de mim, significa que não preciso de um segurança desses!”. Não deu outra: o rapaz foi demitido de suas funções.
Hitler tinha uma paixão especial por cachorros. Cuidava, com muito carinho, de alguns deles, com quem desfrutava de momentos descontraídos, geralmente quando ele subia a montanha, em sua casa de campo – um dos lugares preferidos do Führer. Chegou a declarar que “Casamento está fora de questão. Se precisar de amor incondicional, sempre poderei contar com Blondi e Prinz [pastores-alemães]”. A frase por si só demonstra quanto carinho ele nutria pelos cães de estimação, sendo a cadela Burly sua preferida, tanto que tinha acesso a seus dossiês secretos (mordia, colocava na boca) e se achava no direito de se deitar nas poltronas da sala de estar do ditador. Hitler costumeiramente fazia carinhos nos animais, mas mudava de comportamento repentinamente quando chegavam visitas, em cujos momentos chegava a despedir os cães com brutalidade, uma forma de camuflar seu lado dócil e vulnerável.
O líder alemão era dissimulado: afirmava uma coisa e fazia outra. Chegou a declarar que jamais anexaria a Tchecoslováquia, escondendo, assim, seu plano maquiavélico. Na invasão à Polônia, ordenou que os soldados agissem brutalmente, com a máxima severidade, não poupando as crianças nem os velhos. Consta que a mãe do Führerera superprotetora, convencendo-o de que ele era o máximo. Seu pai, por sua vez, alimentou o ego do ditador com excesso de patriotismo e de autoestima.
Seus últimos dias de vida lhe foram dolorosos e angustiantes. Suas roupas, antes impecáveis, agora demonstravam o desleixo: era comum encontrar restos de bolos em seus paletós. Sua sobremesa favorita, outrora ingerida comedidamente, era devorada em vários momentos do dia, sempre às pressas, como se alguém fosse roubá-la de suas mãos. Passou a ficar hipertenso e desenvolveu o mal de Parkinson. Dormia cada vez mais tarde e menos. Andava curvado e envelheceu muito nos últimos meses. Passou a culpar seus soldados de traição e não viu outra saída senão o suicídio. Três dias antes, porém, se casou com Eva Braun. No dia 29 de abril de 1945, testou o veneno que tomaria no dia seguinte em uma de suas cadelas. Hitler também não queria que seus cães fossem mortos ou levados pelos russos. No dia 1º de maio, um dia após a morte do Führer, a esposa de Joseph Goebbels dá veneno para os seis filhos do casal e em seguida faz o mesmo.
Assim como aconteceu com o médico nazista Mengele (morto por um derrame e afogamento numa praia brasileira, em fevereiro de 1979), a forma como Hitler morreu é vista como desproporcional em relação às perversidades que ambos praticaram em vida. A dor sofrida pelos dois parece de fato insignificante ante a crueldade em questão, cabendo apenas uma observação: levando em conta o caráter e o modo de ser do líder alemão, suas ideologias e seu desejo incessante de vitória, é prudente afirmar que a partir de 1943 (quando o exército alemão sofre uma decisiva derrota na Rússia), e principalmente nos últimos meses de vida, ele (Hitler) sofreu de uma dor que machuca profundamente (a popular “dor na alma ou emocional”), tanto que seu comportamento e sua estrutura física e psicológica revelaram de forma inequívoca seu pesar, ainda que isto seja incomparavelmente menor do que suas monstruosidades praticadas principalmente nos seus últimos dez anos de vida.
Adolf Hitler tinha estatura mediana, algo incomum em relação aos alemães, que eram considerados de estatura alta – pelo menos em sua grande maioria, o que não o impedia de ser uma celebridade perante os olhares daqueles que o cercavam, seja nos momentos públicos, seja nos momentos privados. Tinha a pele clara e olhos azuis. Seu hálito desagradável (provavelmente decorrente de seus problemas estomacais crônicos) não afastava de si aqueles que o admiravam. Tentava compensar o fedor que exalava de sua boca por meio de constante higiene dental.
Ao passar pelas ruas, a multidão se espremia para vê-lo. Tocá-lo, por exemplo, seria um momento inesquecível para essa legião de fãs que o seguiam na Alemanha dos anos 30 e início dos anos 40. Não era por menos que ele se vestia impecavelmente (gostava de paletós largos, para gesticular muito), pois queria sempre se apresentar bem perante o grande público e aqueles que de si se aproximavam cotidianamente.
O Führer desenvolveu um tipo de saudação (não nos referimos àquela de erguer a mão direita) na qual ele apertava, com bastante força, a mão ao cumprimentar os homens (sempre olhando bem dentro dos olhos), acrescentando, inclusive, uma espécie de “balanço” junto à mão de quem era cumprimentado, decerto com a intenção de mostrar segurança, autoridade. Quanto às mulheres, no entanto, limitava-se à gentileza, ao cavalheirismo, o que o fez ser admirado por muitas alemãs de seu tempo.
Sabia agradar e gostava de falar muito. Fazia questão de ser o centro das atenções. Contrariá-lo seria a mesma coisa que não lhe obedecer: ficava rancoroso e não hesitava na hora de dar o troco. Arrogava para si uma inteligência incomum (e de fato era inteligente), achando-se a última moeda do cofre. Chegou a declarar:“Não quero ter filhos. Já observei que descendentes de gênios geralmente sofrem demais”, uma clara demonstração de seu convencimento em matéria de supremacia própria.
Gostava de contar os feitos de quando ainda era jovem, os quais sempre o projetavam para um heroísmo estilo norte-americano dos filmes conhecidos atualmente. Narcisista por natureza. Tinha uma intuição aguçada: dos sete atentados que sofreu, pressentiu que algo lhe estava para acontecer.
Dizia-se corajoso, perspicaz, dando uma impressão de ser imortal, um semideus. De fato, embora não sendo ateu e muito menos adepto de uma religião (chegou a consultar videntes, mas zombava de suas previsões), cria numa providência sobrenatural, tanto que, mesmo quando já havia claros sinais de sua derrota militar, chegou a imaginar que essa mesma providência proporcionaria uma saída milagrosa, revertendo o destino que o selou definitivamente.
Não gostava de se apresentar vulnerável, daí o porquê de ter evitado se mostrar publicamente usando óculos. Chegou, inclusive - tentando compensar eventuais problemas visuais -, a ordenar fossem instaladas na Chancelaria máquinas de escrever com letras maiores do que as normais.
Tinha mania de limpeza. A razão se deve, muito provavelmente, pelo fato de achar que qualquer doença o conduzia à sensação de estar prestes à morte (tinha muito medo de morrer), o que explica a importância que os médicos exerceram em sua vida. Estes, por sinal, desempenharam um papel importante no tratamento de seus problemas de estômago e intestino, os quais incomodavam constantemente o ditador alemão. Consta que, no final da vida, tomava 28 medicamentos, muitos dos quais diariamente.
A partir de julho de 1944 (quando sofreu um atentado que por muito pouco não o matou), aumentou consideravelmente um tremor na mão direita, cujo mal o perseguiu até o dia em que o mesmo cometeu suicídio, em 30 de abril de 1945.
Embora Hitler fosse extremamente cuidadoso em matéria de saúde, ele se negava a fazer exames físicos completos, o que o impedia de se despir na frente de quem quer que fosse. A razão estaria na anormalidade de seus genitais: um testículo não descido. Ele também ainda sofria de outra anomalia: a uretra se abria na parte de baixo do pênis (um problema que atinge também as mulheres). Assim, o ditador que propunha a pureza e a superioridade racial, pregando o desaparecimento de quem apresentasse alguma anomalia genética, não poderia revelar os seus próprios problemas genéticos.
Adolf Hitler tinha uma dieta alimentar controlada. Adorava frutas, verduras e legumes. Não era fã de carne, principalmente depois que presenciou sua sobrinha morta (que cometeu suicídio, muito provavelmente por causa do tio ciumento –Hitler –, com quem manteve um caso amoroso).
Não bebia nem fumava, embora tivesse sido flagrado bebendo cerveja, um típico costume dos alemães. Não abria mão de bolos, principalmente se fossem cremosos e açucarados (ainda hoje é difícil saber se era Hitler que gostava mais de bolos ou se D. João VI de frangos assados). Sendo necessário, ele (o ditador alemão) abria mão dos rigores alimentares só para aumentar seu prestígio com o povo. Quando começou a criar barriga, sua amante Eva Braun (na cama, ele era masoquista e gostava de ser chamado de nenê) o convenceu a fazer caminhadas, alegando que não cabia bem a um chefe de um poderoso império se apresentar em público gordo e com uma barriga aparente.
Tinha hábitos noturnos, tanto que preferia produzir intelectualmente durante as madrugadas. Era hipersensível à luz solar, razão por que não gostava de andar sob o sol forte. Geralmente ia dormir somente depois das 4 da madrugada, e se levantava depois das 11 da manhã.
Era extremamente metódico e não se apartava de sua velha rotina. Só não foi superado pelo filósofo Kant, conhecido por sua rotina quase inabalável. Hitler tomava café da manhã ao meio-dia, e em seguida despachava com seus subordinados mais próximos. Durante o almoço (geralmente acompanhado de dez pessoas), o Führer gostava de falar muito, mostrando seus dotes intelectuais: dissertava sobre os mais variados assuntos: história, arte, política e ciências.
O maior genocida da história era dado à leitura. Gabava-se de ler um livro por dia (o que é provavelmente um exagero – do tempo recorde e não do gosto pelos livros). Sua biblioteca continha mais de 16 mil volumes, muitos dos quais obras raras e consideradas eruditas, dentre as quais as coleções completas de Goethe, Schiller, Kant e Shakespeare, cujos livros se achavam luxuosamente encadernados. Hitler tinha uma paixão especial por dicionários, tanto que entre seus livros foi encontrada uma coleção de 12 volumes. Tinha uma memória invejável, fato este que o levou a reter grande número de informações extraídas das seguidas leituras que fazia.
Não dispensava o famoso cochilo depois do almoço. Gostava de se deitar no sofá, sempre com as mãos sobre os olhos. Quem o despertava era Eva Braun (sua amante), que tinha o hábito de iniciar uma conversa ao pé do ouvido do Führer, em tom mais elevado, numa tentativa de acordá-lo de seu sono vespertino.
O jantar começava costumeiramente por volta das 20 horas. Em seguida todos iam assistir a uma sessão de cinema, cujos filmes preferidos eram King Kong, Branca de Neve e os Sete Anões e Metropolis. Depois, todos participavam de conversas informais, sempre centralizadas na figura do ditador, que tinha o costume de se prolongar em sua fala, principalmente quando estava preocupado com algo. Era comum a fadiga dos ouvintes, que disfarçavam o inconveniente.
Adolf Hitler tinha também o seu lado cômico: gostava de fazer imitações para seus convidados. Os alvos escolhidos eram os líderes estrangeiros, atentamente observados pelo Führer durante os encontros internacionais. Ele gostava de imitar seus trejeitos e maneira de falar. É de se presumir que Stalin, Mussolini, Charles de Gaulle, Roosevelt e Churchill foram imitados pelo ditador alemão, doutor em dissimulação. Com o primeiro, foi criada inclusive uma caricatura onde os dois, abraçados, firmavam o noivado (Hitler o noivo e Stalin a noiva), uma referência ao pacto de não agressão acordados pelos dois líderes, pouco antes do início da guerra.
Embora dado à arte de imitar, Hitler não gostava de sorrir. Sua secretária pessoal e seu guarda-costas relatam que o viram sorrir com maior intensidade somente em duas ocasiões: uma quando a França se rendeu, em 1940 (ele dançou na frente dos generais, que ficaram bastante surpresos), e a outra quando aconteceu a anexação da Tchecoslováquia. Neste último caso, ao sair da sala de reuniões, o ditador pediu às duas secretárias que o beijassem, uma em cada bochecha:“Minhas queridas, tenho uma boa notícia. Hacha [presidente do país] acaba de assinar. É o maior triunfo da minha vida. Vou entrar para a história como o maior dos alemães”. E deu um sorriso radiante!
Muitas vezes gentil, mas perdia a prudência sempre que era contrariado ou estivesse passando por problemas pessoais, principalmente quando a Alemanha perdia a guerra pouco a pouco. Quando isto acontecia, dava gritos em seus subordinados, cujo som ecoava nos corredores da Chancelaria.
Certa vez, lia, em pé, sob uma árvore, a alguns metros de seu segurança particular, quando uma mosca passou a incomodá-lo copiosamente. Tentou afastá-la, mas sempre sem sucesso. O segurança se conteve para não rir do episódio. Perceptivo, Hitler notou a intenção do soldado, e disparou: “Se não é capaz de manter um bicho desses longe de mim, significa que não preciso de um segurança desses!”. Não deu outra: o rapaz foi demitido de suas funções.
Hitler tinha uma paixão especial por cachorros. Cuidava, com muito carinho, de alguns deles, com quem desfrutava de momentos descontraídos, geralmente quando ele subia a montanha, em sua casa de campo – um dos lugares preferidos do Führer. Chegou a declarar que “Casamento está fora de questão. Se precisar de amor incondicional, sempre poderei contar com Blondi e Prinz [pastores-alemães]”. A frase por si só demonstra quanto carinho ele nutria pelos cães de estimação, sendo a cadela Burly sua preferida, tanto que tinha acesso a seus dossiês secretos (mordia, colocava na boca) e se achava no direito de se deitar nas poltronas da sala de estar do ditador. Hitler costumeiramente fazia carinhos nos animais, mas mudava de comportamento repentinamente quando chegavam visitas, em cujos momentos chegava a despedir os cães com brutalidade, uma forma de camuflar seu lado dócil e vulnerável.
O líder alemão era dissimulado: afirmava uma coisa e fazia outra. Chegou a declarar que jamais anexaria a Tchecoslováquia, escondendo, assim, seu plano maquiavélico. Na invasão à Polônia, ordenou que os soldados agissem brutalmente, com a máxima severidade, não poupando as crianças nem os velhos. Consta que a mãe do Führerera superprotetora, convencendo-o de que ele era o máximo. Seu pai, por sua vez, alimentou o ego do ditador com excesso de patriotismo e de autoestima.
Seus últimos dias de vida lhe foram dolorosos e angustiantes. Suas roupas, antes impecáveis, agora demonstravam o desleixo: era comum encontrar restos de bolos em seus paletós. Sua sobremesa favorita, outrora ingerida comedidamente, era devorada em vários momentos do dia, sempre às pressas, como se alguém fosse roubá-la de suas mãos. Passou a ficar hipertenso e desenvolveu o mal de Parkinson. Dormia cada vez mais tarde e menos. Andava curvado e envelheceu muito nos últimos meses. Passou a culpar seus soldados de traição e não viu outra saída senão o suicídio. Três dias antes, porém, se casou com Eva Braun. No dia 29 de abril de 1945, testou o veneno que tomaria no dia seguinte em uma de suas cadelas. Hitler também não queria que seus cães fossem mortos ou levados pelos russos. No dia 1º de maio, um dia após a morte do Führer, a esposa de Joseph Goebbels dá veneno para os seis filhos do casal e em seguida faz o mesmo.
Assim como aconteceu com o médico nazista Mengele (morto por um derrame e afogamento numa praia brasileira, em fevereiro de 1979), a forma como Hitler morreu é vista como desproporcional em relação às perversidades que ambos praticaram em vida. A dor sofrida pelos dois parece de fato insignificante ante a crueldade em questão, cabendo apenas uma observação: levando em conta o caráter e o modo de ser do líder alemão, suas ideologias e seu desejo incessante de vitória, é prudente afirmar que a partir de 1943 (quando o exército alemão sofre uma decisiva derrota na Rússia), e principalmente nos últimos meses de vida, ele (Hitler) sofreu de uma dor que machuca profundamente (a popular “dor na alma ou emocional”), tanto que seu comportamento e sua estrutura física e psicológica revelaram de forma inequívoca seu pesar, ainda que isto seja incomparavelmente menor do que suas monstruosidades praticadas principalmente nos seus últimos dez anos de vida.
Fontes:
Adolf Hitler - Wikipedia
Curiosidades sobre Hitler
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