segunda-feira, 16 de junho de 2014

“Amigo” do inimigo - Conheça a história do pianista de Adolf Hitler

por Fernanda Macedo

EUA, 1909, Ernst Hanfstaengl, conhecido como Putzi, se forma em Harvard e nem se quer imaginara que seria um dos mais confiáveis amigos de Adolf Hitler.

Nascido em Monique, Putzi era filho de pai alemão e mãe norte-americana, e foi morar nos Estados Unidos para estudar em uma das melhores universidades do mundo. Putzi era constantemente visto tocando piano em festas de grandes personalidades da época, e se instalar numa galeria de arte em Nova Iorque o fez se tornar uma figura cada vez mais importante na sociedade.

Mas como uma personalidade dos EUA poderia ser amiga de Hitler?

Pois bem, o encontro desses dois se deu na Alemanha com o regresso de Putzi à sua cidade natal. Hanfstaengl volta a Munique e ouve Hitler pela primeira vez, em 1922. Impressionado com seu discurso, Putzi dirige-se a ele, diz-lhe que concorda com 95% do que ouviu e disponibiliza-se para discutir os outros 5%.  Hitler se agrada do que ouve e acaba se tornando uma presença habitual na casa de Putzi e este propõe-se “refiná-lo”, qual Pigmaleão. Hitler, por seu lado, para além de uma mal disfarçada paixoneta pela Sra. Hanfstaengl (chega a declarar-se-lhe de joelhos), tem outros interesses na relação com Putzi: este abre-lhe portas e ajuda-o a recrutar apoiantes e financiadores na alta sociedade; e ainda se torna chefe de Imprensa Estrangeira e o pianista privado do líder nazista, para quem tocava Wagner pela madrugada dentro, para o ajudar a relaxar. Pronto! Nascia o amigo do inimigo!

Um dos muitos episódios estranhos do seu protagonista envolve Martha Dodd, a vistosa filha do embaixador americano em Berlim. Convencido de que uma das razões da crescente agressividade do Führer era a ausência de vida amorosa e sexual, Putzi decide arranjar-lhe uma namorada. “Martha, você será essa mulher!”, diz o dirigente nazista à perplexa filha do embaixador. Marca-lhe um chá com o ditador, mas o encontro não corre bem.

Contudo, aquele que era a mão amiga se tornaria uma pedra no caminho.

Putzi não concordava com algumas coisas da filosofia nazista e desgastava-se negativamente com alguns que o acompanhava, entre eles o ministro da propaganda Goebbels. O resultado dessas inimizades não poderia ser outro: um afastamento entre os dois acaba com a inesperada fuga de Putzi da Alemanha, suspeitando que Hitler o quisesse matar.


O “pianista de Hitler”, como lhe chamava a imprensa sensacionalista, refugia-se em Londres em 1939 quando é declarada a guerra. Como milhares de alemães, é enviado para campos de detenção, uns após os outros. Depois de intermináveis atribulações e uma passagem pelo Canadá, sempre como prisioneiro dos ingleses, acaba nos EUA, sob proteção direta do presidente Roosevelt, a produzir relatórios para os serviços secretos: comenta os discursos dos dirigentes nazistas e produz perfis psicológicos de Hitler, deliciando Roosevelt com especulação e análise sobre a vida sexual (ou melhor, a falta dela) do Führer.

Putzi foi descrito por um jornal americano como “o bobo da corte de Hitler”. Ambos foram personagens trágicas em circunstâncias dramáticas, pois como diz aquele velho e bom ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte.”.

Fonte:  
O Pianista de Hitler - Autor: Peter Conradi - Editora: José Olympio Editora
O Pianista de Hitler – Artigo da Revista Isto É

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